(Veja) Novas negociações deram tempo para que o Brasil "fizesse as pazes" com o Observatório Europeu do Sul.
Depois de uma longa queda de braço, o Brasil está muito próximo de se tornar membro da maior comunidade astronômica mundial, o ESO (Observatório Europeu do Sul, na sigla em inglês). De acordo com o ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp, o projeto está na Casa Civil e deverá ser encaminhado em breve para ratificação na Câmara. Raupp falou com o site de VEJA durante a 64º reunião anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), que ocorre até o dia 27 de julho de 2012 em São Luís.
O Observatório Europeu do Sul é um consórcio de 15 países europeus (o Brasil é o primeiro de fora) fundado em 1962 para realizar estudos astronômicos a partir de potentes telescópios construídos no Deserto do Atacama, no Chile, considerado um dos melhores lugares do mundo para a observação do espaço. O grupo possui os maiores telescópios do planeta, como o Very Large Telescope e o ALMA. O ESO possui uma comunidade astronômica de 5.000 cientistas e uma produção acadêmica que só perde para o telescópio Hubble, da agência espacial americana, a Nasa. A entrada do Brasil é estratégica porque permitirá a construção do maior telescópio terrestre, o E-ELT, previsto para ficar pronto em 2021. Para isso, o país terá de desembolsar 310 milhões de euros (cerca de 765 milhões de reais) em dez anos.
Raupp não disse exatamente quando o projeto será enviado à Câmara. Esse passo é necessário por se tratar de um acordo internacional. “Todo acordo internacional precisa ser ratificado pelos deputados”, explica o ministro. Contudo, conforme apurou o site de VEJA com fontes ligadas às negociações, a expectativa é de que ratificação aconteça tão logo termine o recesso do legislativo, a partir da semana que vem. Se isso ocorrer, o Brasil será membro pleno do ESO e poderá concorrer com empresas nacionais para a construção dos instrumentos que abastecerão o E-ELT. Além disso, terá um representante brasileiro no conselho diretor para definir futuras políticas de atuação do grupo e será coproprietário de todos os equipamentos do ESO.
O Brasil conseguiu ganhar tempo para se tornar membro do ESO depois do ultimato dado pelo presidente da organização, o astrônomo holandês Tim de Zeeuw. Sem paciência, mas muito diplomático, Zeeuw afirmou a VEJA em janeiro que se o país não se decidisse até maio, sua posição no grupo estaria comprometida. A partir da declaração, a equipe do ministério se organizou rapidamente para contornar situação. Os cortes de orçamento da pasta (20% em 2012, em cima de uma redução semelhante em 2011) colocaram o país em uma situação constrangedora, ameaçado de não conseguir cumprir a carta de intenções assinada pelo ex-presidente Lula e pelo então ministro de ciência e tecnologia Sérgio Rezende em dezembro de 2010. O Brasil havia se comprometido inicialmente a ratificar o acordo até maio de 2011, o que não ocorreu.
Depois de ter sido ignorado pela gestão Mercadante (ministro de Ciência e Tecnologia em 2011), Tim de Zeeuw recebeu tratamento prioritário pelos agentes de Raupp. A manobra deu certo. Em junho, o ESO aprovou a primeira fase de construção do E-ELT mesmo sem a ratificação brasileira. “O grupo entendeu que alguns pontos precisavam ser esclarecidos e que o Brasil passa por uma série de cortes orçamentários”, disse uma das fontes. Com isso, o país ganhou mais alguns meses de fôlego para ratificar o acordo.
Por Marco Túlio Pires.
Fonte: http://cienciaeastronomia.blogspot.com.br
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Lisa Teixeira
Julho / 2012
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