Ouve-me, ouve o silêncio. O que eu te falo nunca é
o que te falo e sim outra coisa.
Capta essa coisa que me escapa e no entanto vivo dela e estou à tona de brilhante escuridão. Um instante me leva insensivelmente
a outro e o tema atemático vai se desenrolando
sem plano mas geométrico como as figuras
sucessivas em um caleidoscópio.
Nova era, esta minha, e ela me anuncia para já.
Tenho coragem? Por enquanto estou tendo:
porque venho do sofrido longe,
venho do inferno de amor mas agora estou livre de ti.
Venho do longe - de uma pesada ancestralidade.
Eu que venho da dor de viver. E não a quero mais.
Quero a vibração do alegre. Quero a isenção de Mozart.
Mas quero também a inconseqüência.
Liberdade? é o meu último refúgio,
forcei-me à liberdade e agüento-a não
como um dom mas com heroísmo:
sou heroicamente livre. E quero o fluxo."
Autora: Clarice Lispector (Água-Viva)
Por: Lisa Teixeira
Novembro / 2009
Nenhum comentário:
Postar um comentário