Vendo-se o que está se passando no mundo, e principalmente neste país, parece-me que o que se faz necessário é uma revolução total de consciência. E não será possível tal revolução, se permanecermos insensatamente apegados a crenças, idéias e conceitos. Não encontraremos saída de nossa confusão, angústia, conflito, pela constante repetição do Gita, do Upanishads e demais livros sagrados; isso poderá levar à hipocrisia, a uma vida de insinceridade, de interminável pregação moral, porém nunca a enfrentar realidades. O que nos cumpre fazer é, segundo me parece, tornar-nos cônscios das condições de nossa existência diária, de nossos infortúnios, nossas angústias, nossa confusão e conflito, e tratar de compreendê-los tão profundamente que possamos lançar uma base adequada, para começar. Não há outra solução: temos de enfrentar-nos assim como somos e não como deveríamos ser, segundo um certo padrão ou ideal. Temos de ver realmente o que somos e, daí, iniciar a transformação radical.(1)
Há necessidade de indivíduos revoltados, não parcialmente, porém 
totalmente revoltados contra o "velho", pois só tais indivíduos poderão 
criar um novo mundo, um mundo não baseado na aquisição, no poder e no prestígio.(2) 
Uma revolução sangrenta não produz paz perdurável nem felicidade para 
todos. Em lugar de meramente desejarem paz imediata neste mundo de 
confusão e angústia, considerem como vocês, individualmente, podem ser 
um centro não de paz mas de inteligência. A inteligência é essencial 
para a ordem, a harmonia e o bem-estar
 do homem. Há muitas organizações para a paz, porém, há poucos 
indivíduos livres, inteligentes no verdadeiro sentido da palavra. Vocês 
devem como indivíduos, começar a compreender a realidade; então a chama 
do entendimento se espalhará sobre a face da terra.(3) 
Torna-se necessária uma revolução, não dentro do padrão da sociedade, 
porém dentro de cada um de nós, a fim de que nos tornemos indivíduos 
totais e não pequenos Sankaras, pequenos Budas, pequenos Cristos. Temos 
de empreender a jornada sozinhos, completamente desacompanhados, sem 
ajuda de ninguém, de nenhuma influência, de nenhum estímulo ou 
desestímulo; porque, então, já não existe "motivo" algum. A própria 
jornada representa o "motivo", e só os que a empreendem produzirão algo 
novo, algo não corrompido, neste mundo - e não os reformadores sociais, 
os "beneméritos", os mestres e seus discípulos, os pregadores de 
fraternidade. Estes nunca trarão paz ao mundo. São eles os verdadeiros 
malfeitores. O "homem da paz" é aquele que 
repele toda autoridade, que compreende, em todos os seus aspectos, a 
ambição, a inveja, que se desprende totalmente da estrutura desta 
sociedade aquisitiva e de todas as coisas envolvidas de tradição.
 Só então a mente é nova. E é necessária uma mente nova, para encontrar 
Deus, a Verdade - ou como quiserem chamá-lo - não uma mente fabricada 
pela sociedade, pela influência.(4) 
Veja você, existe uma revolução dentro do padrão da sociedade, ou uma 
completa revolução fora da sociedade. A completa revolução fora da 
sociedade é o que eu chamo revolução religiosa. Qualquer revolução que 
não é religiosa está dentro da sociedade e não é absolutamente, portanto
 nenhuma revolução, mas só uma continuidade modificada do padrão velho. O
 que acontece por todo o mundo, acredito eu, é a revolução dentro da 
sociedade, e esta revolução freqüentemente toma aquela forma chamada de 
delito. Existe certamente este tipo de revolta uma vez que nossa educação só está preocupada com juventude para encaixá-la na sociedade, isto é, prepará-la para a obtenção de emprego, ganhar dinheiro, ter cobiça, ter mais, e se adaptar. Isso é o que a nossa – tão chamada educação faz em toda parte – ensina o jovem a se adaptar, religiosa, moral, economicamente, assim naturalmente sua revolta não tem nenhum significado,
 a não ser que deve ser reprimida, reformada, ou controlada. Tal 
revolução ainda está dentro da estrutura da sociedade, e, portanto não é
 criadora em absoluto. Mas pela educação correta poderíamos chegar a uma
 compreensão diferente, talvez ajudando a livrar a mente de todo o 
condicionamento – isto é, incentivando os jovens a estar ciente das 
muitas influências que condicionam a mente para torná-la conformada.(5) 
Se você tem que criar um mundo novo, uma civilização nova, uma arte 
nova, tudo novo, não contaminado pela tradição, pelo medo, por ambições,
 se você tem que criar algo anônimo que é seu e meu, uma sociedade nova,
 juntos, na qual não há você e eu mas "nós", não será necessário uma 
mente que é completamente anônima, portanto só? Isto implica que deve 
haver uma revolta contra a conformidade, não implica? Uma revolta contra
 a respeitabilidade, porque o homem respeitável é o homem medíocre que 
quer algo, ele depende de influências para a sua felicidade, do que o 
vizinho pensa, do que o guru dele pensa, naquilo que o Bhagavad-Gita ou o
 Upanishads ou a Bíblia ou o Cristo diz. A mente dele nunca está só. Ele
 nunca caminha só, ele anda sempre acompanhado, em companhia dos seus 
ideais. Não é importante descobrir, ver, o significado total da 
interferência, da influência, da instituição do "eu", o qual é o 
contrário de ser anônimo? Vendo a totalidade disto, não surge 
imediatamente a pergunta: "É possível criar imediatamente este estado 
mental que é livre de influência, que não possa ser influenciado pela 
própria experiência ou pela experiência de outros, uma mente que seja 
incorruptível, que seja só? Somente então existe a possibilidade de se 
criar um mundo diferente, uma cultura diferente, uma diferente sociedade
 na qual a felicidade é possível.(6) 
Só quando a mente é capaz de se livrar de todas as influências, todas 
interferências, de estar completamente só,... existe criatividade. No 
mundo, cada vez mais a técnica está sendo desenvolvida – técnica de como
 influenciar as pessoas pela propaganda, por compulsão, pela imitação, 
por exemplos, pela idolatria, pela adoração do herói. Há livros inúmeros
 sobre como fazer uma coisa, como pensar eficientemente, como construir 
uma casa, como montar máquinas, e de forma que gradualmente perdemos a 
iniciativa, a iniciativa de pensar de forma original algo por nós 
mesmos. Em nossa educação, em nosso relacionamento com governo, por 
vários meios, somos influenciados ao conformismo e a imitação. E quando 
permitimos a influência que nos convença a uma atitude particular ou 
ação, naturalmente nós criamos resistência com outras influências. E 
neste processo de criar uma resistência à outra influência, nós não 
cedemos a isso negativamente? A mente não deve estar permanentemente em 
revolta a fim de entender as influências que estão sempre colidindo, 
interferindo, controlando, amoldando? Não é isso uma das causas da mente
 medíocre que é sempre medrosa e, está num estado de confusão, quer 
ordem, quer coerência, quer uma fórmula, uma forma que possa ser guiada,
 possa ser controlada, e, mas estas fórmulas, estas várias influências 
criam contradições no indivíduo, cria confusão no indivíduo. Qualquer 
escolha entre as influências é seguramente ainda um estado de 
mediocridade. ... Não deve ter a mente à capacidade, não de imitar, não 
de acomodar-se e ser sem medo? Tal mente não deve estar só e, portanto 
ser criativa? Essa criatividade não é sua nem minha, é anônima!(7)
A mente individual é uma mente revoltada e, por conseguinte, não busca 
segurança. Mente revolucionária não é o mesmo que mente revoltada. A 
mente revolucionária visa alterar as coisas de acordo com um certo 
padrão, e essa mente não é uma mente revoltada, não é uma mente que 
esteja insatisfeita consigo mesma.
Não sei se vocês já observaram que coisa extraordinária é a 
insatisfação. Vocês conhecem muitos jovens insatisfeitos. Eles não sabem
 o que fazer; sentem-se miseráveis, infelizes, revoltados, buscando 
isto, tentando aquilo, fazendo perguntas intermináveis. Mas quando 
crescem, arrumam um emprego, casam e esse é o fim de tudo. Sua 
insatisfação fundamental é canalizada e, depois, a infelicidade assume o
 comando. Quando jovens, seus pais, seus mestres, a sociedade, todos lhe
 dizem que não se sintam insatisfeitos, que descubram o que querem fazer
 e o façam — tudo, porém, dentro dos padrões. Esse tipo de mente não é 
revoltada e você precisa de uma mente realmente revoltada para encontrar
 a verdade — não de uma mente conformada. Revolta significa paixão.(8)
Os rapazes quando crescem, tem de ganhar a vida, então arranjam empregos
 e exige-se-lhes que se conformem, que sigam uma profissão, quer gostem 
quer não; tendo-se casado e tendo filhos, são arrastados pela vida afora
 por suas responsabilidades e devem, portanto, fazer aquilo que lhes 
dizem que façam. Nessas condições, o espírito de revolta, o espírito de 
inquirição, o espírito da busca interior chega a seu fim; todas as suas 
idéias revolucionárias de criar um mundo novo são esmagadas, porque a 
vida é demais para eles. Eles precisam ir para o escritório, tem lá um 
chefe para o qual precisam fazer isto ou aquilo e, aos poucos, o senso 
de inquirir, o sentimento de revolta, a ânsia de criar um modo de viver 
completamente diferente de tudo, é destruída por completo. Por isso, é 
muito importante ter esse espírito de revolta desde o princípio da vida.(9)
Percebo a necessidade de descobrimento, porquanto se tornou bem óbvio 
que temos de criar uma cultura de espécie completamente diferente, uma 
cultura não baseada na autoridade, mas só no descobrimento individual 
daquilo que é verdadeiro; e esse descobrimento requer liberdade 
completa. Se a mente está presa, por mais longa que seja a corda, só 
poderá operar dentro de um determinado raio e, conseguinte, não está 
livre. O importante, pois, é descobrir o nível mais alto, onde deverá 
efetuar-se a revolução, e isso exige muita clareza de pensamento, exige 
uma mente em bom estado - não uma mente falsificada, repetitiva, porém 
uma mente capaz de pensar intensamente, de raciocinar as coisas até o 
fim, clara, lógica, sãmente. Precisamos de uma mente assim, porque só 
então é possível irmos mais longe.(10)
A revolução só pode realizar-se no nível mais elevado, o qual cumpre 
descobrir; e esse nível só pode ser descoberto por meio do 
autoconhecimento e não de conhecimentos colhidos nos vossos velhos 
livros ou nos livros dos modernos analistas. Tendes de o descobrir nas 
relações - descobri-lo, e não meramente repetir o que lestes ou ouvistes
 dizer. Vereis então que vossa mente se tornará sobremaneira lúcida. 
Afinal, a mente é o único instrumento de que dispomos. Se ela se acha 
peada, se é vulgar, temerosa, como o é a mente de quase todos nós, 
nenhuma significação tem sua crença em Deus, suas devoções, sua busca da
 verdade. Só a mente que é capaz de percebimento claro e por essa razão 
está perfeitamente tranqüila, só ela pode descobrir se existe ou não a 
Verdade, só ela é capaz de realizar a revolução no mais alto nível. Só a
 mente religiosa é verdadeiramente revolucionária; e a mente religiosa 
não é aquela que repete, que freqüenta a igreja ou o templo, pratica 
puja todas as manhãs, que se deixa guiar por alguma espécie de guru ou 
adora um ídolo. Esta não é uma mente religiosa; é em verdade estúpida, 
limitada e, por conseguinte, nunca será capaz de corresponder livremente
 a um desafio.(11) 
(1) Krishnamurti - O Despertar da Sensibilidade - ICK
(2) Krishnamurti - A Cultura e o Problema Humano
(3) Krishnamurti - Palestras em Ommem, 1936
(4) Krishnamurti - Da solidão à Plenitude Humana - ICK
(5) Krishnamurti - A Cultura e o Problema Humano
(6) Krishnamurti - O Livro da Vida
(7) Krishnamurti - O Livro da Vida
(8) Krishnamurti - Sobre Deus - Cultrix
(9) Krishnamurti - O Verdadeiro Objetivo da Vida - Cultrix
(10) Krishnamurti - Da solidão à Plenitude Humana - ICK
(11) Krishnamurti - Da solidão à Plenitude Humana - ICK
Fonte: http://nossaluzinterior.blogspot.com.br/
_____________
Lisa Teixeira
Junho / 2013
Fonte: http://nossaluzinterior.blogspot.com.br/
_____________
Lisa Teixeira
Junho / 2013

Nenhum comentário:
Postar um comentário