Eu vivo cercada de mortos por todos os lados, todos os dias, todas as horas.
São os mortos de fome, que buscam no lixo o alimento para comer.
São os mortos de medo dos bandidos, dos assaltos, das agressões físicas e morais.
São os mortos de preguiça que não conseguem jogar um papel de bolinho no lixo; não conseguem colocar uma caneca de inox em seu lugar apropriado; que não conseguem fazer uma lição sozinhos.
São os mortos de amor: nem amam, nem se deixam ser amados.
São os mortos pelos vícios que se consomem nas horas, nos minutos, nos pequenos e nos grandes momentos. São mortos que caminham autômatos.
Ora me cumprimentam. Ora fingem não me ver.
São mortos de vontade de ter poder e com o poder pensarem que se transformarão em pessoas melhores. São os mortos de inveja de pequenas e tolas coisas: cabelos, blusas, calças, saias, brincos, sapatos, carro... De grandes presenças: filhos, maridos, esposas, pais, mães, tios, tias, avôs, avós...
São mortos cheios de doenças imaginárias: dói aqui, dói ali, um pouco mais para baixo, um pouco mais para cima, mas nunca ninguém sabe o que é.
São os mortos pelas palavras ferinas.
Não se ouve um elogio, um afago, um cumprimento decente, um posicionamento enaltecedor.
São os mortos dos livros que valem mais que os vivos que os leem.
São os mortos nos altares, fazedores de milagres e responsáveis por grandes feitos, pois nenhum vivo pode mesmo mudar a si mesmo se não tiver um morto santo a lhe ajudar.
São mortos dirigindo carros, comandando empresas, dirigindo escolas, ensinando, aprendendo, escrevendo...
São muitos mortos todos os dias. Às vezes o dia se contagia e fica morto, morno e mata a todos de tédio. São mortos que fogem da morte e que a choram na morte do outro, que se espantam pela forma da partida, da maneira como se romperam laços e o morto passa a ficar mais vivo do que quando não estava morto.
Eu vivo cercada de mortos. Uns eu temo; outros eu respeito e muitos outros ignoro, pois querem me levar para a mesma sepultura da vida que levam.
Querem me fazer crer que estou morta para qualquer coisa, que nada mais me resta se não esperar a verdadeira morte e partir.
Mas resisto, me animo e creio que a verdadeira morte não existe, é apenas uma invenção dos homens, porque Deus sabe que a vida sempre continua, mesmo para os mortos!
por: Mariza Lima
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Lisa Teixeira
Novembro / 2012
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