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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

'Colonizar outros planetas é uma questão de tempo (e dinheiro)', diz Marcelo Gleiser


(Revista Galileu)

Para o astrônomo Marcelo Gleiser, é apenas uma questão de tempo (e dinheiro) para conseguirmos visitar outros planetas, colonizar suas terras e explorar seus recursos naturais. Gleiser, professor de astrofísica no Dartmouth College, uma das faculdades mais conceituadas dos Estados Unidos, é um dos entrevistados do programa O Universo, que estreou domingo (15/01) no canal NatGeo.

A série pretende mostrar as descobertas mais importantes da pesquisa espacial, usando técnicas de computação gráfica, dramatizações e exemplos do dia-a-dia para explicar conceitos da astronomia. O primeiro episódio mostra como os seres humanos poderiam sobreviver aos rigores do espaço e enfrentar problemas adversos como a radiação vinda do sol, oscilações enormes de temperatura e a ausência de gravidade.

Em conversa com a GALILEU, Gleiser adiantou alguns detalhes do programa e explicou como os seres humanos poderiam explorar o espaço e colonizar outros sistemas solares. Veja a entrevista:

A série O Universo consegue passar alguns conceitos da astronomia de forma bem simples. Como é que faz para tornar essa ciência, que às vezes nos parece tão distante, em algo significante para o público leigo?
O interessante dessa série é que ela não é sobre temas abstratos. Pelo contrário. O primeiro episódio é sobre como humanos podem sobreviver no espaço, ele é sobre exploração espacial. O segundo é sobre como a gente poderia minerar outros planetas. Tem outro episódio sobre como a gente pode construir estruturas espaciais; dirigir na Lua, por exemplo. Essa série não é sobre os grandes mistérios do universo, não é sobre energia escura, buraco negro, Big Bang.

As pessoas têm um interesse enorme tanto nas questões práticas (Será que vamos pra Marte?) quanto nessas questões fundamentais (Como surgiu o universo? O que existe dentro de um buraco negro?). São questões que fazem parte de nossa cultura coletiva. É nesse tipo de tema que a ciência passa a desempenhar um papel bem diferente do tradicional, passa a fazer parte de um questionamento metafísico. O truque é falar desses assuntos abstratos da forma mais concreta possível, usando metáforas e analogias. Mas esse não é o caso deste programa. Não que eu não goste de discutir esses assuntos, mas a série é bastante concreta. Cada episódio trata de questões que fariam parte do dia a dia se a gente fosse para o espaço.

Mas você acredita que isso vai acontecer algum dia?
A única coisa que falta para levarmos astronautas até Marte é dinheiro. Ainda existem alguns obstáculos. A radiação, por exemplo, é intensa, temos que desenvolver formas de nos proteger contra isso. A atmosfera de Marte também seria terrível pra nós. Mas são problemas tecnológicos, não fundamentais. Precisamos investir na pesquisa para ter essas novas tecnologias. Acho que é uma questão de vontade política, que hoje em dia está nas mãos dos Estados Unidos e da China. Na época da Guerra Fria, valeu a pena investir na ida até a Lua. Agora, no entanto, o ganho não é tão claro.

No final do primeiro episódio, você fala que a construção de ambientes com gravidade artificial ajudaria na exploração espacial. Por quê?
Um dos grandes problemas das viagens ao espaço é o fato de termos que colocar homens em ausência de gravidade. Nós nos desenvolvemos acostumados ao nosso peso aqui na Terra. Temos uma estrutura muscular e óssea que suporta essa força. No espaço, acaba deixando de usar esses músculos. Então há um problema sério de atrofia muscular e de enfraquecimento do esqueleto.

O que fazer com o corpo humano que vai ficar seis meses em gravidade zero? Uma das coisas que devem ser feitas é criar gravidade artificial. A gente pode, por exemplo, acelerar uma espaçonave. Você já acelerou um carro e sentiu aquele empurrão para trás? Isso é como se fosse uma gravidade artificial. A principio, poderíamos usar essa aceleração. Só que, como isso gastaria muito combustível, é uma solução inviável. Uma outra proposta é construir uma espaçonave que tenha rotação. Se ela estiver em rotação como um carrossel, você sente um puxão para fora. Esse puxão também simula a gravidade. Não sei se você lembra do filme 2001 - Uma Odisséia no Espaço, mas uma das naves tem isso.

A viagem espacial pode um dia se tornar corriqueira?
Acho que sim. Nossos bisnetos vão tirar férias em Marte. Vai ter colônias de férias no planeta para eles. Vejo isso como uma espécie de necessidade evolutiva, é só olhar para a história da colonização do planeta Terra. Os africanos e asiáticos se espalharam pelo planeta em busca de comida e ambientes para ficar. E isso aconteceu desde os primeiros nômades caçadores até os colonizadores europeus. Junto a isso, existe uma ânsia de ir além. O ser humano é colonizador por definição. Temos uma necessidade histórica de sair do planeta, colonizar o sistema solar e eventualmente ir para outros sistemas.

Quando isso vai acontecer ninguém sabe. Sei lá se é verdade que vamos pra Marte em 15 anos. Mas eventualmente vai acontecer. Um dos episódios da série mostra, por exemplo, que pode existir diamantes em Urano e Netuno. Se uma coisa dessas acontecer, a viabilidade econômica dessa viagem se torna resolvida. Por enquanto, a exploração espacial tem sido coisa de governos. Mas talvez o futuro esteja nos interesses privados, nas mãos de empresários querendo ganhar dinheiro.

Alguns teóricos propõem que, para colonizar o espaço, deveríamos enviar seres humanos em viagens de ida sem volta para outros planetas. Mas isso não seria cruel, já que as condições que eles enfrentariam seriam terríveis?
Pelo menos na época dos espanhóis, eles acreditavam na existência do Eldorado; então havia alguma esperança de que encontrariam um lugar legal. Bem diferente do que nos espera no espaço. No entanto, uma vez eu vi uma entrevista de um milionário que pagou para fazer uma viagem com o ônibus espacial. Ele ficou tão emocionado com o que viu ao girar em torno da Terra que, se lhe oferecessem a oportunidade de ir para Marte e não voltar, ele iria ontem. Acho que iríamos encontrar um numero surpreendente de voluntários para esse tipo de viagem.

Mas existe a possibilidade de que essa colonização seja feita de forma gradativa. Antes de enviar pessoas, poderíamos enviar sondas para construir um ambiente remoto, assim como temos no Pólo Sul. Um ambiente onde as pessoas possam sobreviver, que seja relativamente grande. E quando esse lugar estivesse pronto, mandaríamos algumas famílias para lá, sabendo que nunca voltariam. Aí, aos poucos, iria chegando mais gente. E eventualmente criaríamos uma comunidade terrestre lá. Essa série é sobre as aspirações humanas de um dia nos espalhar pelo Universo. Sua beleza é que ela responde a essa curiosidade enorme sobre a possibilidade de sairmos da Terra e sermos os extraterrestres de outros planetas.



Fonte: http://gaea-astronomia.blogspot.com/



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Lisa Teixeira
http://muraldecristal.blogspot.com
Fevereiro / 2012

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