As discussões fazem parte do encontro Escola Avançada de Astrobiologia, financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo e organizada pelo Instituto de Física da Universidade de São Paulo.
O evento foi aberto com a palestra do físico brasileiro Marcelo Gleiser. O pesquisador mora há 20 anos nos Estados Unidos e é professor da Universidade de Dartmouth, onde leciona e pesquisa cosmologia e astrobiologia.
Gleiser é também autor de sete livros de divulgação científica, entre eles A Dança do Universo (Companhia das Letras, 24,90 reais, 434 páginas), que trata da questão da origem do universo tanto sob o ponto de vista científico quanto religioso. Em 1998, o livro ganhou o prêmio Jabuti, o mais importante prêmio da literatura brasileira.
Antes da palestra, Gleiser conversou com o site de VEJA sobre a incessante busca por vida em outros lugares do universo e por que essa jornada melhora a compreensão da vida na Terra.
Faz sentido procurar vida fora da Terra?
Marcelo Gleiser - A astrobiologia não pretende estudar somente a vida fora da Terra. Queremos entender a origem da vida aqui no planeta.
Apesar de estudarmos outros planetas, um dos pontos focais mais importantes é entender quais foram os mecanismos que permitiram a formação de vida na Terra. É uma espécie de ponte para entender como a vida pode ter surgido em outros lugares.
Os cientistas estão perto de descobrir como a vida surgiu na Terra?
MG - Não. A verdade é que ainda não descobrimos e talvez nunca possamos saber exatamente como a vida surgiu aqui.
Por quê?
MG - Porque nunca poderemos recriar as condições da Terra há quatro bilhões de anos, quando a vida surgiu. Contudo, podemos estudar os canais bioquímicos viáveis que podem ter levado à autoestruturação de moléculas que chamamos de vida.
O senhor acha que existe vida fora da Terra?
MG - A vida existe fora da Terra, não tenho a menor dúvida.
O que o faz pensar isso?
MG - As leis da física e da química são as mesmas em qualquer lugar do universo. Só a Via Láctea possui 200 bilhões de estrelas. Cerca de 20% com sistemas planetários e luas. Os números são ridiculamente grandes.
Mas só os números sozinhos não nos dão certeza...
MG - Já estamos encontrando planetas que podem ser muito parecidos com a Terra, como o Kepler 22b, anunciado recentemente. Isso quer dizer que a probabilidade é muito alta de que outros planetas possuam uma vida parecida com a nossa.
Esses planetas abrigariam seres inteligentes?
Aí é uma questão diferente. Não estou falando de coisas complexas, mas de vida simples parecida com a nossa, baseada em carbono, com uma genética normal de DNA.
E vida complexa?
MG - Entendo que a vida se forma em três níveis: simples, complexa e complexa inteligente. A vida simples são os seres unicelulares. Os dinossauros eram complexos, mas não eram inteligentes. A vida inteligente precisa de pulos evolucionários que talvez nunca sejam repetidos.
Como assim?
MG - Se outro planeta abrigar vida complexa inteligente, não será primata, dinossauro nem nada do que conhecemos. A história da vida na Terra é única, assim como a história de cada planeta.
No nosso caso, houve um asteroide que se chocou com o planeta há 65 milhões de anos e acabou com os animais dominantes, abrindo espaço para outros prosperarem.
Essas questões estão ligadas às erupções vulcânicas em massa e tragédias com colisões cósmicas. Essas coisas não se repetem da mesma maneira em dois planetas diferentes.
Cada vez que isso acontece, a vida começa de novo. É por isso que não tenho a menor dúvida de que a nossa história é única. Somos únicos no universo.
via: http://arquivosdoinsolito.blogspot.com/
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Lisa Teixeira
http://muraldecristal.blogspot.com
Dezembro / 2011
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