A sensação de embotamento e distanciamento é um sinal positivo ou negativo? Será que espiritualidade tem algo a ver com isolamento das “coisas do mundo”, família e amigos? O que é mais positivo: sentir-se “especial” ou sentir-se comum? Como a meditação e o autoconhecimento poderá ajudá-lo no encontro consigo mesmo? Vamos refletir juntos?
Na verdadeira percepção não há dualidade de espécie alguma. Se não há dualidade, não há a ideia, normalmente aceita, de que isso é “espiritual” e isso é “mundano”. Se não há esta dicotomia, então por que alguém sentiria um “distanciamento” do mundo, do trabalho, dos amigos e da família? Se há uma sensação de isolamento e afastamento da vida então estás, provavelmente, vivendo uma idéia, uma ilusão, menos a espiritualidade. Pois esta não é uma idéia, um conceito, ou mesmo um “sentimento”. A meditação não o faz sentir-se isolado ou fechado para o mundo. Espiritualidade não o adormece, não o “acalma” como as drogas fazem. Não o “embota”, não o insensibiliza.
Na visão antiga e tradicional, ser “ iluminado” era tornar-se um sujeito calmo, sereno e inabalável. Algo distante, frio, morto, como uma estátua. Um vazio , tão vazio, que nada poderia atingir ou perturbar aquele estado. Nada. Mas será que é assim mesmo? Com Krishnamurti veio uma outra concepção do que seja estar “Desperto”. Ser desperto é ser o que “se é”. É sentir o que se sente, na hora em que se sente: raiva, amor, tensão, nervosismo, impaciência, alegria... Exatamente como uma criança: livre pra sentir qualquer coisa. Seja o que for. Sem a mente julgadora, sem o observador e o censor, tudo passa a ser o “que é”. Então vem a liberdade e a espontaneidade.
Na vida de grandes iluminados modernos há registros de atitudes e sentimentos que não parece combinar com a visão tradicional dominante sobre iluminação. Exemplos não faltam. K. teve um sério ataque de raiva quando rompeu com Raja Gopal, seu ex-secretário particular, que monopolizava e controlava os negócios das Fundações. Sri. Yuktéswar ficou muito abalado quando seu querido e amado discípulo — Yogananda — viajou para a América. O próprio Jesus era tão comum: sorria, bebia, comia, se enraivecia, chorava, andava em festas. De forma que quase ninguém o reconheceu — nem mesmo sua família. Ele era “comum demais” para ser um profeta ou o Messias. Talvez, por isso, atraíra a ira de tantos poderosos. Os grandes e verdadeiros mestres Zens sempre ensinaram que na vida comum é que se encontra a verdadeira sabedoria. Comer, beber, dormir, lavar os pratos, etc. são tidos como altos ideais Zen. Querer ser especial ou sentir-se especial é muito fácil. Difícil é ser comum. A imagem do homem espiritual como sendo um ser distante do mundo, como se estivesse alheio ao mundo é falsa e ilusória. Mítica e idealizada. Isolar-se ou distanciar-se da família, dos amigos e da rotina pode parecer algo espiritual, louvável — mas não é.
Ser espiritual é “viver no mundo, sem ser dele”. Ser espiritual é viver plenamente as relações — sem ideações, sem viagens do EGO, sem ilusões. É simplesmente estar no aquiagora, na percepção verdadeira, sem observador e coisa observada. Nesse estado só existe a percepção. Assim, quando não há a dualidade “observador” e “coisa observada” ainda haverá espaços para o distanciamento, isolamento, embotamento ou coisa parecida? Se te sentes confuso, é melhor parar e refletir um pouco. Uma mente confusa não tem lucidez, claridade, nem sabedoria. Liberta-te de toda confusão primeiro. Encontra tua luz, compreensão e sabedoria interna. Só então poderás “prosseguir” ou seria melhor dizer: “parar”? Ora, somente quando “paramos” é que surge o verdadeiro movimento, não? Não foi isso que Jesus nos ensinou no Quinto Evangelho? Não é esta a essência dos ensinamentos de Buda, Lao Tsé, Babaji, dos Patriarcas ZEN e por último de Krishnamurti?
A verdadeira espiritualidade não está em tornar-se insensível como uma pedra. Mas sensível, vivo, alegre e espontâneo como as crianças. Se não estás aberto ao outro, aberto às sensações, às impressões, sensível às coisas ao teu redor — pessoas, família, situações, natureza, sons, sentimentos, reações etc estás provavelmente entrando num processo de embotamento. Com Krishnamurti aprendemos que a sensibilidade, a energia e a lucidez são essenciais à mente que quer descobrir a Verdade. Fechar-se em uma sensação de paz, cria uma barreira psicológica que o impede de sentir o outro, o mundo, as coisas. Isso é criar uma redoma, um campo de força que o manterá distante da perturbação e dos problemas. Mas até quando? E quando vierem os choques e as crises, para onde fugirás? Viverás eternamente protegendo-te neste paraíso mítico que criaste dentro de ti?
A solução não está na fuga, mas na compreensão. Apenas ela poderá fortalecê-lo, capacitando-o a lidar com os grandes desafios que se apresentam. Tanto internos, quanto externos. Por isso, não podemos insensibilizar a mente. Uma mente insensível e fechada é morta e egoísta — pois é autoprotetora. Ela teme perder sua “paz” ilusória e artificialmente fabricada. Ora, com as perdas vem o sofrimento. Tudo o que a mente menos quer é sofrer. Esse tipo de paz é como a “casa na areia” — citada por Jesus. Ela não tem sustentação. Não tem forças para suportar os fortes ventos das crises e dos problemas. A meditação e o autoconhecimento são os alicerces da “casa sobre a rocha”. A verdadeira meditação não nos distancia de nada. Não nos fecha para nada. Pelo contrário. Nos abre para tudo, pois para nos autoconhecermos precisamos estar abertos e sensíveis. Do contrário, não desenvolveremos a sabedoria e a maturidade tão necessárias ao verdadeiro despertar.
Fica aí a dica: cuidado com o embotamento, o distanciamento e o isolamento. Se existem essas sensações, então há, provavelmente, algo de errado em sua percepção. Urge, refletir e investigar!
Muito obrigado!
(Alsibar- inspirado)
msn: alsibar1@hotmail.com
via: http://confrariadosdespertos.blogspot.com/
Lisa Teixeira
http://muraldecristal.blogspot.com
Dezembro / 2011
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