Para os céticos, o resultado não poderia ser outro, mesmo que houvesse uma EQM. A maior parte dos pesquisadores entende que elas não passam de uma confusão cerebral. No momento de uma parada cardíaca, a perda de oxigênio faz com que a massa cinzenta deixe de distinguir realidade e fantasia. Ela entra em pane. Balançada pela desordem, recorre à memória de curto prazo para compreender a situação. Então se depara com cenas que acabou de registrar, como a própria sala de cirurgia. A partir daí, tenta reconstruir o que está supostamente acontecendo naquele momento. Imagina o atendimento médico, a sala de operação. Então a memória nos prega uma peça. Todas as nossas lembranças registram uma visão panorâmica, como uma imagem de filme, em terceira pessoa, criando a sensação de estarmos fora do próprio corpo - quando você se lembra de um momento do passado, não visualiza exatamente o que os seus olhos registraram; enxerga o seu corpo na cena. Do lado de fora. Você se vê de costas, de lado, de frente... O cérebro é um diretor de cinema. E o seu corpo, o protagonista.
Portanto, em meio à confusão de uma parada cardíaca, a mente enxerga todas as recordações (e recriações) recentes como imagens do presente. Atribui a elas o rótulo de "realidade". É por isso que os pacientes relatariam as cenas de ressuscitação como se estivessem no teto do hospital. A experiência fora do corpo seria apenas um modelo de memória do cérebro — só que tomado como real.
Alguns pacientes contam detalhes específicos, como o caso da mulher que viu o médico se atrapalhar com o carrinho cirúrgico. Susan, porém, acredita que nesses casos a audição estaria ainda em funcionamento — já que é o último dos sentidos a ser perdido —, e a mente seria capaz de criar aquela imagem visual.
Sam Parnia realiza estudos na Inglaterra |
Os pesquisadores que defendem a "distinção entre mente e cérebro", no entanto, não vêem grande coerência nessas teorias. Alegam que, naqueles instantes de morte, os aparelhos de eletroencefalograma não deixam dúvida: não há atividade cerebral. No entanto, outros três estudos feitos no século 21 questionam a idéia de total "desligamento" do cérebro. Sugerem que as máquinas monitoram, principalmente, a atividade na superfície do órgão. O monitor mostra a linha reta, mas outras partes mais internas podem estar em atividade. É o caso do lobo temporal, o "núcleo" do cérebro.
Um experimento em especial parece sugestivo. Os voluntários receberam estímulos elétricos na região do cérebro conhecida como giro angular direito, que é parte do lobo temporal. Com uma certa intensidade de estimulação, os voluntários disseram se sentir "como se estivessem afundando na cama". Estímulos mais fortes produziram relatos como "estou acima do meu corpo e o vejo estendido" — é que essa parte do cérebro é a responsável por delimitar a percepção sobre onde termina e corpo e onde começa o mundo exterior. Nos primeiros instantes de parada cardíaca, então, essa região continua ligada, só que em parafuso. Daí para ela agir como nos experimentos em que está sob uma descarga forte de impulsos elétricos é um pulo.
Mas Sam Parnia, apesar de não ser brasileiro, não desiste nunca. Ele preparou uma experiência bem maior para caçar seus fantasmas. O inglês agora trabalha para recrutar hospitais pelo mundo todo que topem instalar placas pelo prédio ou apenas permitir entrevistas com os sobreviventes de paradas cardíacas.
Essa é a pesquisa que Alexander Moreira Almeida está fazendo com ele. O brasileiro é o braço direito de Parnia por aqui. Três hospitais aceitaram a parceria (Santa Casa, Hospital Universitário e Monte Sinai, todos de Juiz de Fora, a cidade de Alexander).
Fenwick também está nessa: acertou parcerias com hospitais do Reino Unido, da França e da Austrália. "Esperamos conseguir compilar 1500 relatos de EQMs. Se alguns pacientes conseguirem relatar o texto das placas, poderemos demonstrar que a mente e o cérebro são coisas distintas", diz. Por "distinção entre mente e cérebro" entenda uma consciência que existe independentemente do corpo. Mas é só um jargão. Na rua as pessoas chamam isso de "espírito", "alma", "fantasma."
O jargão também serviu para batizar o primeiro evento brasileiro dedicado às pesquisas sobre o além, o "I Simpósio Internacional Explorando as Fronteiras da Relação Mente e Cérebro", em (de novo) Juiz de Fora. Foi um ciclo de palestras em 2010 que reuniu 9 cientistas da área, entre eles Fenwick e Alexander. Na pauta, relatos de experiências transcendentais, como as que você viu aqui, filosofia e surrealidades da física quântica (que até tem seu lado "espírita": partículas aparecem e desaparecem do nada no mundo subatômico, por exemplo, mas isso é ciência tradicional mesmo).
Bem mais fora do comum, porém, é outro assunto que estava na pauta do seminário: as pesquisas com reencarnação. Como vocês, um dos maiores especialistas nessa área, que também esteve no simpósio: Erlendur Haraldsson, do Departamento de Psicologia da Universidade da Islândia.
Revista Superinteressante (n. 296 - out/2011)
Ilustrações: Patrick Melgaço
Fonte: http://www.partidaechegada.com
Por: Lisa Teixeira
http://muraldecristal.blogspot.com
Outubro / 2011
Ilustrações: Patrick Melgaço
Fonte: http://www.partidaechegada.com
Por: Lisa Teixeira
http://muraldecristal.blogspot.com
Outubro / 2011
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